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O perigo de se acreditar na própria narrativa.



Há muito tempo a psicologia estuda um fenômeno chamado “dissonância cognitiva”, a tendencia de perceber mais facilmente e com maior intensidade as coisas nas quais acreditamos e investimos energia e tempo, e perceber pouco, ou não perceber, as coisas nas quais não acreditamos. A noção de realidade é fortemente influenciada pela crença de cada um – e não é diferente com a população russa ou ucraniana.


Boa parte da população russa acredita que trava uma guerra para salvar seu país dos nazistas que tomaram o governo da Ucrânia. Estão identificados completamente com esse mito do herói que luta contra o mal e defende a pátria mãe. Se em algum momento tiverem de se confrontar com o que o restante da população mundial assiste todos os dias pelo noticiário poderão se retrair ainda mais dentro do seu próprio mito, dificultando muito a reintegração da sociedade russa ao mundo moderno, e isso é uma tragédia.


Por outro lado, há tempos que a população ucraniana se afasta de suas origens eslavas e se identifica com a Europa ocidental, com toda sua modernidade, tecnologia, globalização e uma certa “pasteurização” cultural.


A modernidade traz muitos benefícios e melhora de índices objetivos de qualidade de vida, mas ao jogar fora a conexão com suas origens tradicionais termina “jogando fora o bebê com a água do banho” e enfraquecendo a conexão com suas origens, o que aumenta a vulnerabilidade da sociedade para doenças individuais e coletivas da modernidade como depressão, ansiedade, neuroses e simpatias por ideologias e seitas radicais, como o nazifascismo e seitas apocalípticas como uma maneira um tanto desesperada de busca por raízes e sensação de pertencer a algo.


Para a Ucrânia, e para o restante do mundo, o ideal é que dessa guerra surja um país moderno, mas ainda bem enraizado e conectado com suas origens tradicionais.



Daniel Holzhacker

Psicólogo (CRP 06/127614)

www.holzpsicologia.com.br

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