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Pelo direito à infelicidade


A supervalorização da felicidade da cultura atual frequentemente esconde o medo do encontro consigo mesmo. Esconde o medo de se olhar no espelho e ver as partes da própria vida que são socialmente valorizadas, como a maternidade, paternidade, vida profissional de sucesso financeiro, entre outras, mas que por algum motivo não se está satisfeito.


A recente reação no Facebook de muitas mães à uma que ousou dizer-se insatisfeita e infeliz com a maternidade, ou a visão deturpada que o senso comum tem de pessoas que sofrem de depressão como pessoas de caráter fraco ou pessoas preguiçosas são exemplos disso.

Além de desrespeitar o direito de cada um ser como se é, mesmo que isso inclua ser infeliz e insatisfeito, se recusar a ver de frente o lado sombrio de si mesmo e da vida impede o acesso à sombra pessoal de cada um, aquele lado que queremos esconder de nós mesmos, mas que se escondemos ficamos pernetas, sem conseguir ver parte importante da realidade e, consequentemente, sem conseguir sermos nós mesmos inteiramente.


Os maníacos de felicidade e da positividade, aqueles que se recusam dar atenção ao próprio lado sombrio, seriam muito melhores, mais verdadeiros e autênticos, se não tivessem tanto medo de si mesmos e aceitassem se olhar inteiramente de frente. Provavelmente descobririam que eles mesmos não são tão assustadores e horríveis como temiam.


Daniel Holzhacker

Psicólogo (crp 06/127614)


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