A capacidade de perdoar não apenas aos outros, mas especialmente a si próprio é uma das características mais importantes de alguém com boa saúde mental e espiritual.
Como o casco não mantido de um barco no oceano junta cracas, conchas, moluscos e outras surpresas que dificultam a navegação, quando navegamos pela vida tendemos a colecionar situações e emoções inacabadas que, com o tempo, dificultam a nossa vida e terminam por criar problemas de relacionamento com os outros e conosco mesmo – são os ódios, as depressões e as ansiedades. Navegar pela vida sem resolver essas coisas é como um barco navegar com vários objetos presos no casco abaixo da superfície da água.
A linha da Gestalt Terapia da psicologia chama isso de “Gestalt em aberto”, ou seja, uma situação, relacionamento ou emoção que, pelo menos para nós, ainda não se resolveu e se finalizou e que atrapalha novos relacionamentos, atrapalha sentirmos prazer com a nossa vida e atrapalha o nosso próprio crescimento pessoal.
O perdão pode não ser a única maneira de fechar essas questões, mas sem dúvida é uma das mais importantes. Quando realmente perdoamos damos um enorme passo no sentido de limpar e facilitar a navegação da nossa vida em direção a um futuro melhor, mais feliz, com mais realizações e mais crescimento pessoal.
Exemplos da importância do perdão são o jovem que perdoa os pais por uma infância difícil com situações dolorosas e marcantes para só então conseguir curar as feridas da infância e continuar a crescer e evoluir, ou o perdão pela traição amorosa de um companheiro ou companheira como passo importante na reconstrução de um relacionamento amoroso.
Embora importante, não basta ser capaz de perdoar aos outros. Com muita frequência temos de ser capazes também de perdoar a nós mesmos pelas escolhas, erros e “pisadas na bola” do passado. Perdoar a si mesmo não significa evadir a responsabilidade pelos próprios atos, mas ao contrário, significa realmente assumir e aceitar as consequências, inclusive, e principalmente, no que diz respeito ao aprendizado e desenvolvimento pessoal gerado pelo erro cometido no passado.
Exemplos disso são a mulher que fez um aborto e que passou secretamente a se odiar depois disso (o problema não é o aborto em si, mas se odiar depois significa que a questão não foi resolvida), ou o homem que no passado abusou da esposa ou filhos, e nunca mais conseguiu se olhar no espelho, mesmo depois de ter pedido e recebido perdão.
Nesses exemplos, como em diversos outros, ser capaz de perdoar a si mesmo é necessário para que a pessoa continue navegando pela vida.
Daniel Holzhacker
Psicólogo (crp 06/127614)
www.holzpsicologia.com.br