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Vício, Compulsão e Processo de Cura


Junto com a depressão, a compulsão (que inclui o vício em álcool e drogas e comportamentos de risco) é um dos grandes males para a saúde nesse início de século. Por isso é importante olharmos para a cura desses males. Até algum tempo atrás a cura da compulsão e do vício era entendida como total abstinência da droga ou comportamento, e essa definição de cura continua muito presente.


Ver na total abstinência a única possibilidade de cura é fruto de um pensamento dualista e absoluto, em que tudo é totalmente bom ou ruim, saudável ou não, branco ou preto. Esse tipo de pensamento tem a vantagem de ser simples e fácil de entender, mas infelizmente afasta muitos daqueles que mais precisariam resgatar suas próprias vidas das garras do vício e compulsão.


O vício e compulsão não ocorre por falta de caráter, ou por falta de força de vontade. Geralmente o vício aparece na vida de alguém para ajudar em algo, pelo menos no começo. Em algum momento foi a adaptação possível para que a pessoa conseguisse realizar algo, como se relacionar mais facilmente com os outros, lidar com a ansiedade natural em um momento de vida difícil ou aguentar um emprego de que não gosta.


Retomar o controle da própria vida é um processo, um caminho longo que inclui idas e vindas, e em que a recaída é não apenas comum, mas também pode ser fonte de aprendizado. Por exemplo, se perguntando quais os fatores presentes logo antes de uma recaída podemos conseguir uma pista na descoberta dos motivos iniciais que levaram ao vício e compulsão, e então desenvolver outras maneiras para lidar com esses problemas.


Mudar um comportamento desenvolvido ao longo de muito tempo para nos proteger e ajudar não é fácil, mesmo quando percebemos que esse comportamento está nos fazendo mal. Recaída é parte do processo, e não significa que a pessoa não esteja comprometida em mudar. A cura não passa necessariamente pela abstinência total, mas deve ser definida mais como uma retomada do controle da própria vida e pela retomada da capacidade em se continuar a se desenvolver e a crescer pessoal e profissionalmente. Abstinência total pode até acontecer, e muitas vezes acontece, mas ela não é absolutamente necessária.


Não devemos ver no vício e na compulsão um inimigo a ser estraçalhado, pois se fizermos isso nos transformamos nós mesmos nesse inimigo e atacamos parte de quem somos. Devemos sim desenvolver a gentileza para conosco mesmos e perceber que em algum momento o vício nos ajudou em algo, mas que agora está nos fazendo mais mal do que bem e que precisamos procurar alternativas mais saudáveis para aquelas vantagens que tínhamos encontrado no vício, o que leva tempo e demanda trabalho.


Com gentileza devemos procurar ver para além do comportamento para a vantagem ou ganho que o vício ou compulsão trouxe em algum momento, e procurar desenvolver outras maneiras de lidar com a questão, quer desenvolvendo outras técnicas de lidar com o estresse ou ansiedade, quer nos afastando daquilo que os gera.


Acima de tudo, se você ou se alguém que você ama está tentando se afastar de um vício ou compulsão e teve uma recaída, não ataque ou reaja com raiva, mas procure a gentileza de perceber que a recaída faz parte do caminho de cura e procure aprender com a experiência. Reagir com raiva e agressividade não apenas não ajuda, mas atrapalha porquê diminui o valor do grande esforço que você ou aquele que você ama realizou na retomada do controle de sua vida.

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